TENHO SETE BLOGS, QUE DE UM DIA PARA OUTRO EU NÃO CONSEGUIA MAIS ACESSAR MINHA CONTA E MEUS BLOS
ESTE É O BLOG DA REVOLTA!FIZ MINHA CONTA DE NOVO
RECUPEREI, O MESMO ENDEREÇO, AGORA OS BLOGS,
NEVER MOR!
a conspiração das palavras (uma crónica sobre cansaço)]
Penso que os seres humanos poderiam aninhar-se no chão e ficar ali, junto uns dos outros, sem dizer absolutamente nada, como fazem os cães. Ou rebolar em cestos a breves resfolegares do mais completo silêncio como os gatos; balbuciar bolhas de ar, apenas aqui e ali, como os peixes de aquário; dizer tudo de uma só vez, numa sílaba prolongada, como fazem, suponho, os lobos quando uivam ao cair da noite. Já para não falar das pedras, das árvores, das batatas, das maçãs, de uma hera, de águas paradas. De manhã, o mundo é um coro de pequenos sons agigantados pelo silêncio. Mas, depois, chegamos nós. E começamos a tagarelar.
Por que sentem as pessoas tamanha necessidade de falar? Nas salas de espera, nas paragens de autocarro, nas filas dos correios, nas mesas dos casamentos onde sentaram, lado a lado, desconhecidos.
Há muito quem aprecie a nostalgia dum pretenso passado
no campo em que todos se falam. Imagine o horror.
Quantas vezes não lhe apetece estar apenas quieto
, sossegado, acordado, mas a existir o menos possível
, somente a olhar, a ouvir ou nem isso, a ocupar-se em não
estar ali?
Pessoalmente, estou disposto a pagar a uma daquelas empresas organizadoras de experiências por uns dias disto. Dispenso o rafting, a escalada e a viagem ao Espaço. Garantam-me quarenta e oito horas de silêncio e eu passo o cheque.
Toda a gente quer conversa. O senhor do quiosque, o motorista do táxi, a dona do café, os colegas de trabalho. A pessoa começa a sonhar almoçar sozinha e convidam-na para um repasto que ponha em dia – digam todos – a conversa. Volta-se ao posto e a saga prossegue, acrescida aos telefonemas, e-mails e, no caso do blogger, aos comentários, em torrentes caóticas de ruído de gente a querer – como é que é, Lisboa? Quero ouvir – conversa. A pessoa que é pessoa sai, decide ir a pé para que ninguém a acompanhe e, ao fim de dois passos, pára alguém que oferece boleia.
E, depois, vem o jantar, o cônjuge (a palavra menos excitante desde… hã… bedum) que quer contar o seu dia e saber como foi o nosso, a televisão a matraquear, o desafio telefónico para um copo, a progenitura que quer notícias, a criançada que não vai dormir. Num dia de menos sorte, virão ainda os tipos da tv cabo a impingir o funtastic live, o rapaz do destak e o do global notícias, o vendedor de enciclopédias, o das flores e tiaras luminosas, as testemunhas de Jeová, a assistência técnica da Lisboagás a avaliar os níveis de satisfação do cliente, a promoção das Pousadas de Portugal, o cobrador de quotas do Benfica, a namorada que deixámos em 1993 que quer dar a notícia de que está grávida e ainda não se sente completamente certa de estarmos isentos de responsabilidades, até a chamada por engano. Toda esta gente quer uma única coisa – agora só vocês: conversa.
Milhões de pessoas em todo o mundo instalam softwares
gratuitos de conversação; eu ofereço-me para pagar uma
fortuna por um que silencie quem se atreva a aparecer
na rede.
Temos ao nosso dispor, entre as opções de fabrico, olhares, gestos, toques, rugas, ombros, mãos, abraços
, et cetera e tal. O Criador ofereceu-nos a comunicação verbal e a não-verbal. Não temos que optar
exclusivamente por uma. Isso é com o sexo. E mesmo assim.